Estive a arrumar a minha secretária. Enquanto deitava toneladas de papéis para a reciclagem, encontrei uma folha, dobrada, na qual reconheci a minha letra. A escrita era fluída, sem grandes hesitações (risco bastante enquanto escrevo) e não continha qualquer referência a uma data. Comecei a ler. Tratava-se de uma carta, digamos assim, que eu tinha escrito ao meu ex-namorado. Sinceramente, não me lembrava de ter escrito nada disto:
"Adoro-te. Não consigo evitá-lo. Sinto que posso confiar em ti, e isso traduz-se num à vontade excepcional, numa vontade de falar, de estar, de contar. Não sei porque confio, não consigo encontrar motivos racionais para isso.
(...)
Outro dia quase te senti corar pelo telefone, parecia que estava a ver o sangue a afluir à tua face e a ficares completamente vermelho. Acho que disseste uma coisa que não contavas dizer, parecia que te tinha saído sem querer. Pensavas, não querias dizer, mas acabaste por fazê-lo.
(...)
Tenho vontade de te contar tudo, de partilhar contigo, porque sei que talvez também queiras partilhar algo comigo. És um dedicado aos amigos, mas queria que o fizesses porque gostas, sei lá, porque tens vontade, e não por te sentires na obrigação de ser meu amigo por eu ser uma solitária.
Apesar de todas estas dúvidas, acho-te excepcional. Era como se fosses tudo o que eu gostaria de ser, ou como eu gostaria que os outros fossem."
Esta carta deu-me muito que pensar.
Certamente foi escrita no período imediatamente antes de começarmos a namorar. Não sei porque nunca lha enviei. Mexendo um pouco mais na gaveta da secretária, encontrei o último postal que ele me escreveu no dia dos namorados. As palavras eram de uma delicadeza, simplicidade e suavidade da qual eu já não me lembrava. Apesar de tudo estar bem resolvido entre nós, foi bom recordar. E sim, senti saudades. Gostava de voltar a sentir assim, mas ao mesmo tempo, sei que não era suficiente.
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